Edulcorada amargura...dolce far niente

Edulcorada amargura...dolce far niente

Ainda o puto mais durão da turma não tinha acabado de sugar o chupa-chupa, quando lhe mostraram um gelado enorme e digno de gulodice em dó maior. Nem pensa duas vezes. Chama a claque da putalhada e há que passar o primeiro lambisco ao próximo rufia da comandita. Ora lá estava o mais vistoso e atrevido a estender a mão e a aceitar o já salivado e lambido chupa-chupa. À falta do gelado do chefe havia que aproveitar esta mais pequena, mas gostosa gulodice.
É claro que alguns membros da comandita não viram com bons olhos tal doação e trataram de mandar uns filetes e requerer novas eleições dentro do comando interno, mesmo que algumas cabeças rolassem. Com ou sem argumentos de válida relevância, o facto é que o puto rufia e vaidoso acabou por se impôr sem grandes alaridos e vai daí teria direitos na sucessão a novas guloseimas. Chamou os amigos e amigas do grupo e lá iniciou a sua dádiva a gosto de alguns e contragosto doutros. Procurou não conflituar com o seu antecedente, procurando manter ocupados alguns dos seus mais próximos amigos, incluindo um malandreco, também seu amigo, doutra claque com algumas afinidades estatutárias, e que havia assentado arraiais no grupo inicial, com algumas responsabilidades funcionais e acolitado por uns quantos malteses da sua estirpe. Tal como com o seu antecessor, este seria o seu verdadeiro comparsa e aliado na orientação da comandita.
Apesar de muita contestação na turma e fora dela, lá se ia aguentando na chefia, sem nunca abdicar das suas atitudes de pavoneio e exibição de força na claque. Interessava manter a imagem de um verdadeiro chefe de equipa, e se alguém estava desgastado que se retirasse e não o desgastasse a ele, o chefe máximo, nem mexesse com o seu outro aliado e comparsa.
Mexe aqui, mexe ali, lá se foi safando e, afogado nas suas incapacidades, lá ia arranjando umas alternativas de sucesso/insucesso, mas sem beliscaduras na imagem altaneira e sempre cuidada pelas “jeitosas” da claque.
Era na realidade um verdadeiro senhor que se ia deliciando nas suas quintas, sempre ávido de novas guloseimas e que até já tinha esquecido a benesse do seu predecessor, negando qualquer herança natural de chefia mas alardeando o seu verdadeiro mérito e reconhecido valor de gestor grupal.
Mas...e há sempre um mas de tamanho desconhecido...nem sempre o valor que nos atribuimos corresponde à verdade, e dogmas já vão ficando esgotados e inusitados. Assim sendo, quando a vaidade e o poder (efémero) nos ofusca acabamos por não ver nem ouvir quem nos rodeia, ignorando até as mais amigas e sábias críticas e opiniões.
Avisaram-no que as tropelias eram excessivas e demasiado evidentes. Não se podiam gerir interesses globais de forma tão distraída e com tamanha ligeireza. Foi algumas vezes chamado pelo responsável máximo da sua área de influência territorial que lhe teceu críticas e solicitou moderação e atitudes eticamente correctas para o seu e outros grupos. Mesmo assim manteve e até agravou o comportamento, pois afinal ele era o eleito, o legítimo representante da maior tropilha daquela área. Ninguém tinha o direito de o criticar dessa forma e até deveria agradecer-lhe a atenção que vinha prestando aos seua súbditos, mesmo que os prejudicasse, pois tais prejuizos seriam apenas ligeiros efeitos colaterais.

Já farto da sua caturrice e império de asneiras o responsável máximo da sua área de influência chamou-o e ...oh! infelicidade. Estava farto de o ver servir-se da sua posição para achincalhar tudo e todos, pelo que lhe retirou o tapete e aos seus comparsas.

Gemeu, chorou, nunca acreditando no que ouvia. Perplexo, nada refeito e zangado dizia-se incompreendido. Era uma cabala de mau gosto tirarem-lhe a possibilidade de continuar a usufruir das guloseimas que “legitimamente” lhe cabiam e aos seus amigos.Alguns destes, ainda mal refeitos das palmatoadas recebidas, nem queriam acreditar na perda das suas mordomias, e recorriam a um chorrilho de frases e palavras contundentes contra o agente de tão cruel desfeita. Que lhes iria reservar agora o futuro? Uma autêntica desgraça...já não acreditariam na sua eficiência e quiçá perderiam a hipótese de regressar aos “bons hábitos” de bem explorar e enganar o próximo. Mas...e continuamente haverá tantos “mas” quantos os necessários...até nada haveria a temer, pois como foram exemplares na conduta e atitudes perante todos, e tudo não passou de um acto irreflectido de quem os depôs, poderiam ser bem compreendidos e reeleitos, mais legitimamente até.

Talvez os eleitores o compreendam, e assim, em vez de receber a legitimidade do amigo que aceitou um doce melhor e lhe deu, de mão beijada, o chupa-chupa lambido, poderá receber, com maior legitimidade, uma belíssima e tão apetecida iguaria que talvez não tenha o sabor amargo da amostra anterior. Como dizem os sabedores, atrás de uma montanha existe sempre outra, por isso após uma iguaria apetecida poderá haver outra...e talvez não tão amarga quanto a primeira.

PS - Qualquer coincidência com pessoas e factos políticos recentes não passará disso mesmo...uma mera coincidência.

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