Portas que cerram e… irrevogavelmente se reabrem

(imagem da net)


Dentro da sua ridícula irrevogabilidade, Paulo Portas, parte gémea duma (mais que provável) nova gestão governamental, viu o amanteigado Passos Coelho tremer de medo (o tal medo que dizia não ter!) e ceder, em toda a linha, às suas ambiciosas exigências.
Paulo, o homem que inicialmente se contentava com popularucho beijocar de feirantes e passantes, acabou por não se satisfazer com as permanentes passeatas à volta do globo, pois, para além da saturação das paisagens e das conversas diplomáticas, entendeu que seria a hora certa para ultrapassar o protagonismo do Primeiro Ministro. Ponderou o parco peso do seu partido no governo, face às mais valias (achava ele) que o mesmo acrescentava ao elenco global e, vai daí, decidiu fazer birra e exigir representatividade mais pesada e mais ombro a ombro com o seu aliado. Sabendo da grande vaidade e apego de Passos ao poder, viu, neste, uma alma gémea e… quis colocar à prova até onde iria o apego e ambição (continuidade da “soberba” que teve quando derrubou J. Sócrates) do chefão que se apodava de D. Pedro, o Sem Medo.
Cautelosamente utilizou a arma do “faz-de-conta-que-não-me-interessa-o-poder” e colocou irrevogabilidade nas condições impostas para se equiparar ou até superar D. Pedro. Sabia que poderia calhar mal, mas sempre acreditou que os ambiciosos e soberbos se matam pelo poder e pelo protagonismo, pois tinha isso na massa do seu próprio sangue e, noutras ocasiões, já dera provas da sua ousadia.

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D. Pedro, o Sem Medo, que tanto apregoava a sua audácia e valentia, procurou no silêncio dos deuses o parecer dos mais chegados e da sua muleta, D. Aníbal, o Abúlico. Todos eram unânimes: a coligação não se pode “descoligar”… seria o fim de dois anos de mama bem sucedida e, novas eleições nem pensar, pois já há novos mamíferos à procura da teta. Nada de deixar os louros para outrem quando este outrem é o inimigo figadal de D. Aníbal e sua comandita monolítica.

Poder é poder e medo não configura desonra. Numa autêntica anulação da etimologia de irrevogabilidade, D. Pedro submete-se, depois de tantas cambalhotas e tanta ingestão de sapos, e decreta o fim da irrevogabilidade. A partir de hoje fica decretado que ninguém usará de irrevogabilidade e se o fizer correrá riscos de ser equiparado a primeiro-ministro.  
Feita a digestão sapal e transformada a irrevogabilidade no seu contrário, D. Pedro concedeu titulação de Dom a Paulo e, assim, o irrevogável demissionário tornou-se D. Paulo e até lhe foi possível superar D. Pedro, já que conseguiu transformar a coragem deste num verdadeiro medo de perder protagonismo e poder.
D. Paulo apenas exclamou, como Júlio César: “Veni, vidi, vici” – e acrescentou – Este bonifrates do nosso “primeiro” é demasiado primário! Hei-de massacrá-lo!

D. Paulo estava farto de saber que Lady Swaps haveria de ser ministra das Finanças, pois teve o desprazer de a ver durante dois anos a acompanhar o Gasparzinho nos altos meandros da finança internacional. No entanto, sabia que poderia armar-se alonso e argumentar que nada sabia sobre a promoção da referida madame, como se desconhecesse, também, que ela frequentava “aulinhas” do ministro, para ulterior recepção da pasta. Passos, na sua habitual lerdice, engoliu o sapo e nem regurgitou.
D. Paulo, o Irrevogável, perante um assustado Pedro Sem Medo, achou que poderia tornar-se mais poderoso com algumas exigências e medidas cosméticas. Armou-se em caro e difícil, exigindo supremacia na gestão financeira e nas relações com os “troikanos”, além de pretender a manutenção das negociatas diplomáticas que iniciara como ministro dos negócios estrangeiros. Com certeza que o medo da queda faria dobrar a arrogância e oposição de D. Pedro.

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Restava apenas um pequeníssimo obstáculo: D. Aníbal o Abúlico, poderia não concordar. Todavia, se não ficou chocado com a quase inesperada irrevogabilidade, já estaria no papo. Além de mais tudo ficaria a gosto e numa coloração alaranjada, apesar de algo desbotada. Tal como D. Pedro, era só deglutir o batráquio e…já estava. Novas eleições e novos mamíferos é que não. Depois de tanto esforço e sudorese para abater J. Sócrates, que tanto desprezava, não poderia reassumir ligações com a súcia rosa.
Faria uma encenação com toda a cambada e, no fim, com discurso doloroso e dentes cerrados decidiria: “ Para respeitar os compromissos assumidos dever-se-á cumprir e dar continuidade ao pesado ajustamento iniciado há dois anos. Por isso, após muitas cambalhotas e sapos engolidos, entendo que a mesma coligação deverá manter-se em funções e acabar a tão desejada reforma que desde início foi planeada. Novas eleições seriam despesismo e mudança para pior. Está decidido para bem da Nação”

Assim, neste minúsculo rectângulo, lá vamos tolerando as famigeradas políticas em que o “era e não era” avançam de mãos dadas, sob a batuta de um grupo abandalhado e orientado por abúlica personagem.
Com as portas que cerram e se fecham, poderemos, num eufemístico desabafo gritar bem alto: “ estamos irrevogavelmente salvos!”


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