Requiem por um país de marinheiros...

                                                                           (imagem da net)

Num país à deriva, em águas revoltas, faz mais de três anos, timonado por vagabundos eleitos nas ondas da mentira, somos chegados ao ponto em que para além da pirataria, não há peixe na pescaria, não há jóias arrastadas nas redes e a água continua salgada numa autêntica impotabilidade.
País sem rumo, sulcando um mar de “erros e má fortuna”, definhando num horizonte sem sol-posto, e oprimido pelo ar tenebroso da bruma cinzenta.
Nada nem ninguém o leva a porto seguro, à claridade dum farol por demais ansiado. Já não existem Gamas nem Cabrais, e os deuses, embrenhados em lutas fratricidas, continuam cada vez mais loucos na disputa de poderes efémeros. As sereias já não enlouquecem a má tripulação da nau e os marinheiros continuam algemados aos remos ou dançando loucos, no revolutear das velas. Não há porto seguro à vista, nem se vislumbram os limites da costa.

António, isto já não é um “país de marinheiros”. Não ouses convidar o amigo Georges a ver o “país das naus, de esquadras e de frotas”! 

No gemente silêncio, de tantas bocas espavoridas, com medos pressentidos e  sufocados, sinto a ausência de um país que foi promessa esfumada. Esperamos a chegada da nau que zarpou em busca de migalhas para dar, mas demora surgir nos horizontes mais próximos. Velhos do Restelo, calcamos mil vezes as mesmas areias da praia, e nelas gravamos sulcos profundos que retêm a salinidade amarga das águas turvas que nos rodeiam.

Em todos os lugares, amarrados à esperança dos amanhãs que não virão, continuaremos a viver os sonhos transformados em pesadelos. A réstia de alguma esperança acabará por se diluir na espuma que resta das marés da nossa revolta.

No entanto é preciso acreditar, já dizia o poeta, porque depois da agressividade de uma onda revoltada, outra virá que nos poderá trazer a acalmia e a verdadeira mensagem de liberdade e justiça.

                                                                          (imagem da net)

António, vamos continuar e rezar com plebeias  lamúrias de gente simples:
“Senhora dos aflitos!
Mártir São Sebastião!
Ouvi os nossos gritos!
Deus nos leve pelas mãos!
Bamos em paz!”

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