Gritar Abril...pelos pobres e contra a corrupção




Hoje, para mostrar o meu desagrado pelas injustiças sócio-económicas e comemorar o espírito daquele Abril, gisado à 35 anos, decidi publicar, neste e noutro cantinho de escritas e desabafos, o mesmo texto. Para que não se busque demasiado transcrevê-lo-ei aqui, textualmente:


Passaram já 35 anos. Para gente do meu tempo ainda foi ontem, mas, para a geração dos meus filhos, tudo parece estar à margem dos acontecimentos. Só quem saboreou os tempos de antanho e provou as agruras de uma certa forma de vida, poderá ter a verdadeira noção do antes e do depois. Os jovens até aos quarenta, quarenta e cinco anos, terão os testemunhos na memória, mas a vivência jamais por eles passou, pelo menos de forma vinculativa e quiçá traumática. Viver de facto não é propriamente a mesma coisa que viver ao som dos testemunhos e resquício de imagens e documentos.
Doa a quem doer, os tempos eram outros, todos sabemos. Se temos saudades de muitas coisas boas, que as houve, também não as temos de muitas outras que, hoje, quase seriam impossíveis e até obsoletas. Não se trata de repudiar o “modus vivendi “ e carências sócio-económicas desses tempos, mas tão somente a repressão, o silêncio imposto, a censura, a opressão de actos e ideias. Liberdade era coisa de que se não dispunha, desde que algo mexesse com os “superiores interesses” da Nação, barreira delineada pela máquina do poder.
Mas afinal que nos trouxeram, de novo, estes 35 anos de maior liberdade e democracia? Na realidade um pouco mais de liberdade, com demasiada libertinagem nos cérebros mais tacanhos e abusivos, mas também uma série de injustiças sociais e económicas, ainda em crescendo.
É facto que se acabou-se a guerra com as ex-colónias, mas tal acabaria por suceder, mais ano menos ano, mesmo sem a revolta dos cravos, quase tenho a certeza disso. Ninguém pense que continuaríamos, mais tempo, com tal guerra estúpida e descabida. Marcelo Caetano sabia-o bem, talvez melhor que muitos dos que se revoltaram nesse Abril de então.
Também tivemos as portas da Europa abertas a mil sonhos que, na sua globalidade, apenas beneficiaram a fatia de novos políticos e novos ricos. Sabemos que os milhões foram aplicados em muitas obras e melhoramentos básicos para as nossas más infra-estruturas, mas, grande parte desses dinheiros que chegaram da UE, apenas reverteram em favor dos que se encontravam no poder, e seus correligionários. Foi para a nova classe política, que ainda hoje se mantém numa alternância de poder, uma autêntica chuva de dinheiros fáceis, aplicados apenas em seu proveito e de mais alguns amigos.
Realmente, estes 35 anos enriqueceram a corja política, essencialmente os "importantes" dos dois maiores partidos que se alternaram no poder, e, como não havia leis nem fiscalização para o enriquecimento ilícito, foi um “ver se te avias”. Quem mais roubasse e melhor disfarçasse, teria continuidade no poder e o respeito de milhões de ingénuos explorados que se vergavam perante senhorial canalha. Surgiu, perante os exemplos da americanice imperialista, uma casta de “pseudo-gestores”, feitos nas coxas, como sói dizer-se, e, que tal como lá, num imperialismo autofágico, acabou por trazer esta crise que castiga o povo desprotegido, mas premeia os que ilicitamente amealharam o que seria de todos, se melhor distribuido. E o efeito bola de neve continua...
Contudo, soubemos há poucos dias, que continua a não interessar aos poderosos, que se chamem os ladrões pelo nome. Poderão continuar a enriquecer ilicitamente, sem que tal seja considerado roubo, a menos que eufemisticamente lhe chamemos "lucros legais dignamente obtidos" (pobre povo português!), já que num contexto do tipo “Ali Babá e os quarenta ladrões”, o Estado (Ali Babá) ganha 60% do roubo efectuado pelos ilícitos (os quarenta ladrões...) sendo estes ganhadores de 40% do seu “legalizado” roubo. Ah, o povo, que é a vítima do roubo (pois donde haveria de sair o produto?!...), ficará a bater palmas aos intervenientes desta farsa, e continuará, eternamente a bajular quem, tão descaradamente, o assalta e, nas próximas eleições vai, subservientemente, reeleger os mesmos gatunos para o Governo da eterna alternância. O ciclo repetir-se-á “ad aeternum”, por uma simples razão: covardia, subserviência e falta de auto-confiança nas capacidades de cada um.
Os políticos, podem crer, são, na sua maioria, um bando de incompetentes, eleitos e nomeados ao abrigo do “Princípio de Peters”, e, quase sempre, são como as pilhas “Duracell”: duram, duram, duram... mas porque deixamos, podem acreditar.
Sempre ouvi dizer que o poder corrompe, mas tal só sucede com os mandantes desonestos, gatunos e mentalmente fracos. Portanto, acho que todos os governantes e gestores de empresas que se corromperam (e foram tantos, e alguns tão bem disfarçados) ou são mentalmente fracos, logo corruptíveis, ou então são gatunos e desonestos. Assim sendo deverão deixar o poder, ou a bem ou a mal, mas o povo é que deverá decidir, porque as leis são como se vê: favoráveis à corrupção, não considerando o roubo descarado como crime. Viu-se estes dias! E nada de justificar o injustificável, pois a ordem legal é neste momento: roubem, roubem quanto e como puderem, à sombra de favores e cunhas, pois o Estado agradece que o roubo seja gigantesco, para que os ladrões e o poder também enriqueçam. O Povo que se lixe, pois nasceu e vive para ser explorado pela corja dos chico-espertos, ao abrigo das leis, por estes, elaboradas
Afinal o mesmo povo subjugado e espoliado foi quem os elegeu, portanto que grame a pastilha até à dissolução final.

Comentários

Mensagens populares