O País não ganha ...quando ganho "eu"

Dá vontade de rir e de chorar, mas com predomínio de riso...um riso de chacota e sardónico, perante o ranger de dentes de políticos falhados e arrogantes.
No contrasenso do "meu nome" e "representação", posso afirmar à boca cheia que, graças aos referidos políticos e falhanço dos seu sistema, ganhei uma grande fatia de "votantes", ou antes, "abstencionistas". Ironicamente, se fosse verdade, eu seria o representante do maior número de eleitores, quer neste Portugal em estertor político, quer em toda a Europa. Realmente lamentável, mas a realidade é esta...dói ao bem instalados e aos mais conscientes, mas o verdadeiro povo a que pertencemos é assim...conformado e resignado: não sabe nem quer saber, não tem nem quer ter, não luta nem quer lutar. Pretende deixar que outros pensem e façam por ele... uma verdadeira apatia!
E porquê? Podem crer que a maior culpa cabe à desgraça dos políticos que temos e que singram apoiados na apatia deste povo que exploram e dominam de forma infame e desonesta. Povo que não acredita nos políticos, embora possa acreditar em algumas políticas que não são postas em prática. Se o povo se desligou da política, a culpa vai quase inteira para os maus políticos (quase sempre os mesmos, em alternância) que geriram o País nestes 35 anos de pseudo-democracia.
As recentes eleições europeias mostraram, sem quaisquer razões para euforia dalguns e depressão doutros, que as políticas não cumpridas e a falta de bom senso político, jamais favoreceram a pretensão pela continuidade. Todavia há que estar atentos porque os falsos ganhadores não merecem o apoio do povo, nem um retorno aos erros que anteriormente cometeram e agora pretendem branquear. Será que o povo sofre de amnésia ou padece de masoquismo crónico? Não creio neste princípio e espero que nas próximas eleições saibam o que escolher. É que muitas vezes vale muito mais uma continuidade com sacrifícios, que voltar às perfídias dum poder que se diz alternativo, mas não passa de uma sanguessuga que nos levou à miséria anunciada, com espoliação do erário público e alimentação de um polvo constituido por uma classe política ávida de poder e mordomias. Acaso algum político da era PSD/AD se encontra a viver de ordenados regulares ou reformas normais? Só quem andar a léguas da realidade e das recentes polémicas do BPN e quejandos, se deixa embrulhar por falsas ideias e promessas. Qual foi o Governo, até hoje, que ousou mexer nas mordomias exageradas de gestores, políticos e outros oportunistas do Sistema?
No tempo dos Governos PSD (com ou sem CDS) ninguém mexeu com os grandes interesses económicos, ninguém mexeu nas classes mais favorecidas e até se fomentou o enriquecimennto dos que militavam no Poder instalado. Verdade que o PS pós Guterres ainda alimentou desses vícios e desfavoreceu os que trabalham quotidianamente com salários, muitas vezes, de miséria. Que raio de desenvolvimento económico teve o nosso País nestes 35 anos de alternância política? Quem procura agora, e em tempos de crise mundial, corrigir alguns (muitos) erros do passado? Quem acabou com a subvenção política (belo tacho remuneratório) dos deputados, autarcas e governantes?
Sabemos que já foi um pouco tarde e a desoras...mas sucedeu. Alguém teve a coragem que aos anteriores faltou... e mais não direi, que o povo não dorme, mas castiga na hora certa.

Tem piada o PSD cantar vitória nas eleições recentes, mas tudo não passa de uma farsa. O PSD teve cerca de 3000 votos acima dos que teve nas europeias anteriores, mas...ficou na "pole position". Na próxima corrida, com muito maior assistência, sem tantas ausências (menos que 62%) poderá voltar a perder a vantagem posicional.
À guisa de relembrança, irei transcrever algo que aqui escrevi em 11/12/2004. Qualquer coincidência com a realidade de hoje será mesmo ocasional.
Isto foi escrito antes das eleições de 20/02/2005 e, obviamentes antes da tomada de posse de Sócrates em 12/03/2005

«Alberto Caeiro, em Poemas Inconjuntos, diz: “Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais. Para qual fui injusto - eu, que as vou comer a ambas?”
Teoricamente este Governo já se foi...na prática ainda poderá causar danos colaterais se não houver anticorpos que os neutralizem. A real bagunçada já não é institucional, não se brinca num cenário político às trocas e baldrocas e os atónitos do mundo surreal já não se divertem a expensas do pobre Zé Povinho. Infelizmente ainda há nevoeiro que desaparecerá, talvez, a breve trecho, mas sumiu-se o bréu que nos envolvia. Como muitos, senti alívio dum sufoco que não escolhi, e, muitos que escolheram, sentiram-se livres duma penhora que jamais esperavam quando com boas intenções o fizeram. O tempo mostra, em devida e exacta altura, o seu contratempo. Se o fruto caíu por “bichado”, foi óptimo. A bicharada, por contiguidade, poderia minar novos frutos e seria a putrefacção global. Em bom tempo o tempo foi contratempo. Os homens adormecem inebriados no seu narcisismo que é efémero, mas o tempo, na sua real crueza, não permite eternidades balofas. Muito menos a atónitos dum mundo surreal. Vêm aí tempos de mudança e contratempos que poderão arrastar a continuidade do mesmo que, nós mesmos, queremos distante. E a continuidade poderá ter outra máscara carnavalesca, mas, subjacente, o rosto mostrará iguais cores e feições. Dóceis palavras e falsos sorrisos tentarão fazer deslizar os incautos. Cuidado, que as promessas que saem de quem não cumpriu nem agradou, não trarão novas mézinhas e as maleitas prevalecerão, por vezes mais resistentes a nova terapêutica. Na bipolaridade a que nos limitaram, teremos duas fortes opções: os mesmos, ou os quase-mesmos. As duas partes de uma mesma laranja...e sem sermos injustos, teremos que continuar a comer mais do mesmo, que as partes são semelhantes (mas não iguais).»


Afinal que nos irá reservar o próximo acto eleitoral?...Vamos andando e na altura se verá, pois a inconstância e fidelidade de um povo ditarão os resultados. Prevejo uma luta de gigantes entre os dois habituais, já que os outros apenas vão marcando presença perante um conservadorismo popular que diria doentio e masoquista quanto baste.

Comentários

Biranta disse…
Para "Deputado da abstenção" o meu amigo está, na sua conclusão, demasiado "deputado" e muito pouco compreensivo para com a expressão de opinião dos cidadãos, mormente da abstenção.
No entanto noto que, mesmo aqui em baixo, sentiu vontade de "gritar" movido pelas "gritantes" injustiças e patifarias dos políticos e seus apaniguados... DOS POLÍTICOS TODOS... Acho que falta essa conclusão nos seus escritos; essa conclusão que leva muito boa gente a abster-se. Além disso e em relação aos resultados eleitorais aionda temos que ter em conta o peso da vigarice...
Mas não foi por nada disso que aqui vim depois desta longa ausência. Vim aqui para divulgar a Petição Para Valoração da Abstenção e apelar a que todos assinem e divulguem. Acede-se no meu blog Sociocracia, ou então fazendo busca...
Biranta disse…
Ah! Aqui também se censuram os comentários DA ABSTENÇÃO. Deputado da Abstenção... Sei! Igual aos outros.
Deputado da abstenção mas apaga um comentário que divulga uma petição para valoração da abstenção, CONTRA ESTE SISTEMA ELEITORAL NAZI.
Deputado da abstenção... Grande lata! Quanta presunção! Deputado da abstenção contra a abstenção e os motivos de quem se abstém.
"Deputado" iogual aos outros, que se auto-elege, CONTRA, a abstenção.
A pouca vergonha é generalizada e não deixa espaço para a honestidade!
dbo disse…
Caro(a) Biranta, pode não me acreditar, mas só hoje é que vi estes seus comentários. Vi que leva muito a sério o nome do blogue: Deputado da Abstenção. Pois bem, não passa de uma brincadeira, mas um nome que reflicta um verdadeiro contra-senso, um facto impossível. No fundo a minha originalidade (?) no título visava mesmo que eu me tornasse um arauto de impossíveis e contra-sensos, mas sempre analisando as verdades e os factos em si mesmos.
Li a sua Petição e confesso que é original, mas não concordo com ela em todos os seus itens, não só por obrigar a despesismo acrescido nos referendos, quer por achar que obrigaria a pausas de governação desnecessárias, além de dar azo ao oportunismo de alguns políticos da chico-espertice.
Mas está curiosa e servirá de opinião e análise para os actuais e futuros políticos.
Para finalizar confesso que gosto dos seus escritos, mas sou um cibernauta de tempos aleatórios e esporádicos, embora gostasse de ter tempo para navegar e ler mais. Vou estar atento aos seus novos escritos e comentá-los se me permitir.

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