despesismo de alguns…sacrifício de todos

Os últimos acontecimentos políticos mostram-nos um panorama dantesco a curto e a longo prazo, com autêntica avalanche de opiniões emitidas quer por pressupostos “experts” quer por leigos das matérias em análise crítica. No entanto, atendendo às matérias em análise, mais concretamente as medidas necessárias para redução do défice económico nacional, com redução das despesas nacionais, vemos que praticamente todos apontam o dedo ao excessivo despesismo do Estado, reconhecendo que este remonta a cerca de duas dezenas de anos atrás. Quem não se lembra das notícias que diziam, ainda Cavaco Silva era o PM e Soares o PR, que entravam no nosso país, cerca de 1.200 milhões de contos (na data não eram euros) por dia, vindos, a fundo perdido, da UE. Não eram trocos, caros amigos, mas uma autêntica fortuna diária, que os nossos maus políticos de então e os que lhes sucederam, espatifaram de forma ignominiosa e num autêntico latrocínio regulamentado por leis que criaram à sua justa medida. Ladrões, é o termo correcto a aplicar a todos os governos destas duas décadas, que, como sabemos, foram partidários dos alternantes PSD (com ou sem CDS) e PS.
Nos primeiros anos, como a entrada de dinheiros era abundantíssima, foi um fartar de vilania com criação de BPN’s, empresas pessoais e muitos outros organismos estatais. Quase todos os políticos começaram a enriquecer de forma inexplicável, e a usufruir de mordomias nunca imaginadas, extensíveis a familiares e amigos. Criaram-se as famigeradas subvenções políticas que se juntavam às reformas dos políticos e as engordavam um pouco mais. Os poucos anos de prática política quase duplicavam os anos de serviço destes funcionários públicos feitos à pressão, mas estes sim, os funcionários públicos que hoje são ricos e ganham bons ordenados, mas melhores reformas.
Todavia sabemos que ninguém lhes vai retirar essa benesse adicional, imerecida, a que deram nome de “subvenção política”. Pois acreditem que há milhares de ex-políticos (deputados, autarcas, vereadores, ministros, secretários, etc…) que usufruem desse injusto e imoral acréscimo, numa reforma que, na sua essência, nem deveria ser de funcionário público, pois muitos só o foram enquanto efémeros políticos que colocaram os seus interesses pessoais e familiares muito acima do interesse nacional.
Os anos foram decorrendo e com os cortes cada vez maiores no influxo de dinheiros vindos da UE, as despesas mantiveram-se a bom ritmo, por vezes com maior intensidade. Mudavam-se os protagonistas políticos, mas as mordomias continuavam. Os ex-políticos eram promovidos a gestores de vários níveis em empresas estatais, EPE’s, PPP’s, etc. Bons lugares, melhor remunerados, mas ocupados por “boys” incompetentes, perdulários e oportunistas.
Na sua essência continuavam a ser funcionários públicos (mas estes, sim, bastante ricos) pois os dinheiros estatais é que lhes pagavam e pagam os ordenados e as mordomias bem conhecidas de todos os portugueses. Se reformados, com douradas reformas, também estas continuaram e continuam a sair dos cofres do Estado. Todos estes gestores contribuíram e contribuem, com uma multiplicidade de despesas, para a criação do nosso enorme défice nacional. Se continuarem com essas mordomias e ordenados, além de enterrarem as empresas que gerem, vão afundar ainda mais o País. Primeiro porque são, na maioria das empresas que dirigem, uns autênticos incompetentes, valendo-se da eficácia possível dos seus directores adjuntos e outros profissionais das referidas empresas. A comprová-lo estão os resultados observados e as múltiplas críticas de trabalhadores dessas empresas (funcionários públicos, na sua maioria de baixas remunerações e já sujeitos a vários congelamentos e cortes de promoção nas suas carreiras) .
Nos últimos tempos, descobriram-se múltiplos buracos nas contas dessas e outras empresas que evidenciaram a má gestão das mesmas. No entanto os gestores ganham bem e até dividem prémios anuais imerecidos. Os trabalhadores, esses vêem-se com iguais remunerações e novos congelamentos das carreiras, como se realmente fossem os culpados do descalabro da empresa. Mas, é a norma desde há milénios e o mexilhão é que paga sempre as favas.
Hoje vemos em vários programas das televisões e acérrimos artigos jornalísticos, autênticas mezinhas para resolução do défice, fornecidas por ex-políticos, ainda bem remunerados pela sua anterior ineficácia governamental, mas hoje detentores de soluções que na sua experiência governamental não colocaram em prática. Vale a pena perguntar-lhes porque razão obtiveram soluções tão tardias para a resolução de problemas que eles próprios alimentaram anos atrás. Não diriam que foi por interesse nacional, mas que talvez nessa altura ainda precisavam de submissão à disciplina partidária para melhor remuneração futura e aquisição de maior prestígio pessoal, ou até que globalmente amadureceram! Sim, cada um desculpa-se como achar conveniente, pois cada tempo tem suas conveniências, essencialmente para os oportunistas.
Em resumo, o País está mal, diremos péssimo, mas à custa dos oportunistas e delapidadores do erário público. Quem foram os culpados? Bom, acho que ninguém levantaria um braço, sequer um dedo, num acto de pura contricção e auto-culpabilidade, sob risco de enorme vaiadela e eventual apedrejamento em praça pública. Mais fácil será culpabilizar, indirectamente, todos os funcionários públicos, colocando no mesmo saco os que não têm “pedigree” político com os que o têm. Mas há que fazer a diferença: uns e outros perderão nas remunerações base, mas os de melhor “pedigree” não poderão perder mordomias que os outros nunca tiveram, nunca terão, mas continuarão a pagar como se tivessem.
O que para os “rafeiros” será perda significativa, para os outros serão uns “trocos”. Mas todos continuarão a lutar pela sobrevivência num autêntico “mundo cão”.
Neste plano, cada vez mais inclinado rumo ao abismo da recessão, creio que têm que ser os autóctones e nunca os FMI’s a colocar ordem num País que é de todos e onde todos têm que ceder algo do que possuem, mas de forma justa, equitativa e proporcional, pois alguns só poderão doar a força do seu trabalho, porque outras riquezas não arrecadaram.

(Publicado em simultâneo noutro blogue do autor)

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