modelo de avaliação...injustiça...manifestação










Na realidade só quem é cego não vê, mas o Governo, fazendo jus às medidas absurdas de uma Ministra da Educação já marcada pelo desgaste e imagem embaciada, continua a pretender manter um braço de ferro com os docentes, eles próprios desgastados pelo excesso burocrático e múltiplos contrasensos de um modelo de avaliação que não pode realmente vingar. Não creio que este Governo seja masoquista, ao ponto de assumir a crítica nacional duma classe que deveria ser mais dignificada e, assim, se vê na contingência de efectuar mais uma das maiores manifestações de descontentamento nacional. Todos nos lembramos da grandiosa manifestação efectuada há cerca de oito meses, mas sem que ninguém dela tirasse as necessárias ilações. Nada mudou e apenas o desgaste e descontentamento da classe docente se agravaram, com um crescente e visível desconforto dos alunos e seus representantes, gerando-se um autêntico novelo de incertezas. O futuro dirá se esta atitude do Governo de Sócrates irá ter quaisquer benefícios para todos os intervenientes no projecto de educação nacional, mas pessoalmente acredito que a política de M. L. Rodrigues deveria ser mais flexível e ter um maior sentido de justiça dentro da classe docente.

É realmente anacrónico e inexplicável, o que actualmente se passa com os professores que, num ápice, e perante o sorriso sardónico e viperino de M.L.R, com assentimento do Governo e do Provedor de Justiça, se vêem metidos numa autêntica salgalhada de injustiças profissionais, para desgraça de alguns e satisfação de outros, dentro da própria classe. Avaliação sim, mas olhemos os antecedentes e a metodologia.


Primeiramente vejámos como poderá um docente ser avaliado por um colega subalterno, menos graduado, que mercê de um disparatado concurso de acesso a professor titular, em que lhe eram exigidos menos pontos, aliás nenhuns, para obtenção do posto, acabou por ascender a uma posição que lhe permite ser avaliador de colegas em escalão superior, mais antigos na carreira, mas a quem exigiram uma cota alta de pontuação, mínimo 95 pontos, para obter o mesmo posto, e sem lhes contarem o seu passado de dirigentes e docentes com tarefas importantes, limitando-os a um curtíssimo período de actividade docente. Porventura já imaginaram um médico do internato geral ou complementar a avaliar o desempenho dum assistente hospitalar ou dum consultor, chefe de serviço? Ridículo, ofensivo para o avaliado e até uma afronta para o avaliador, embora haja aí avaliadores, que até nem são professores (são educadores de infância, pertencentes aos agrupamentos de Escola) que regozijam por poderem avaliar verdadeiros professores, que até poderiam ter sido os seus quando passaram pelo "Ciclo" ou até pelo "Secundário". Vejam bem a injustiça e, acima de tudo, o desaforo duma Ministra que aprova tudo isto, apoiada pelo Governo e com assentimento dum Provedor de Justiça (que poderá estar mal informado e pior documentado). Esta é a verdade incontestável e provada do que se passa em muitas escolas.

Da mesma forma, como será possível que um professor, que também vai ser futuro concorrente na sua progressão na carreira, seja avaliado por outro que vai ser seu opositor na mesma ascencão nessa carreira? Só não prejudicará o seu avaliado se for "lerdinho" "masoquista" ou demasiado sério e honesto, o que não acredito. Se tem na mão a faca e o queijo para avaliar o seu colega opositor na progressão de escalão, é claro que não vai "auto-prejudicar-se". Não será isto um autêntico atropelo e até uma verdadeira utopia na luta inter-pares? Mais uma vez, só esta Ministra e este Governo não querem ver o evidente. Basta ir aos estabelecimentos de ensino e verificar estas verdades incontestáveis. Porque não param de cometer tais injustiças? Que ódios de ordem social os movem? Senhor Provedor de Justiça, confirme estas grandes verdades e ponha cobro a tanta loucura junta.

Já não pretendo falar da enorme sobrecarga de horas de trabalho, extracurriculares, que prejudicam toda uma vida familiar de milhares de professores, que se vêem assim afastados do convívio com os filhos, esposos, pais etc., em detrimento duma escola que não merece tanto sacrifício, já que os alunos até podem transitar de ano com "chumbos" a quase todas as disciplinas, e até já se preparam para, em nome do tão apregoado "sucesso escolar" obrigar, sim obrigar, os professores a "transitar de ano" todos os alunos até aos doze (12) anos de idade. Não será de admirar, pois a minha esposa que é professora, este ano tem na turma, do 5º ano, um aluno que não conhece os algarismos de um (1) a dez (10), oriundo de uma escola do concelho, e que trazia no seu "curriculum" um pedido da sua professora primária (Ensino Básico): que não fossem aplicados ao aluno, quaisquer ensinamentos, que fossem além do primeiro ano de escolaridade obrigatória. Isto é verdade, acontece, em locais que não pertencem ao "cu de Judas". Mas ninguém quer saber, e o garoto terá que transitar de ano, a fazer jus às políticas do nosso Governo ( que poderá não ter todas as culpas, mas isento é que não está...).
Esta sobrecarga de trabalho extra-laboral e um certo desencanto e desilusão não estarão a provocar a intensa debandada de docentes para a aposentação antecipada, mesmo com prejuízo no valor das pensões de reforma a receber? É claro que sim, na sua essência, mas a Ministra tem outras desculpas obsoletas e de má pagadora. É necessário empurrá-los (aos professores mais velhos) para fora do ensino, dar lugar aos mais jovens, melhor domesticáveis por políticas obtusas, mas, em minha opinião, menos conhecedores e algo mais impreparados para os grandes desafios duma Portugalidade que se exige, embora já não para o tempo destes políticos malfadados e pára-quedistas de ocasião.


Vamos ver se esta nova manifestação dará azo a mudanças, ou se porventura a surdez e indiferença continuarão a ser lema da M.L.R. e todo um Governo extasiado pela ilusória beleza do seu umbigo.




Comentários

Venho simpelsmente agradecer... Sou professora com imensa paixão, sempre fui. Revi-me nas suas palavras (palavras do meu próprio marido, professor da FCUL). Não resisti a roubar-lhe o comentário feito no Terrear do meu amigo JMA e a divulgar, no meu cantinho, uma ligação até estas. Deixei tudo no meu "Tempo de Teia", porque é preciso não calar o absurdo e escutar vozes diferentes, como a sua. http://tempodeteia.blogspot.com/2008/11/um-mdico-fala-dos-professores.html
Obrigada!
Safira disse…
Olá!

Agradeço a sua visita ao meu blog "Escola do Presente", agradeço também a sua colaboração à causa. É sempre bom ver que há pessoas de esferas diferentes que apoiam os professores.

Muito obrigada!

Safira

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