Relembrar... poemas do meu baú
Embora não esteja propriamente em gozo de férias, que inicio na próxima semana, voltei às cinzas do meu baú e retirei os dois poemas, ainda escritos antes do 25/Abril. O primeiro foi, e volta a ser, dedicado à minha esposa, na altura namorada. O segundo é dedicado a todos os explorados deste mundo que vêem volatilizar-se, sem retorno, as poucas migalhas que ainda têm.
AMO-TE ASSIM
Amo-te, assim,
em laivos de fome,
mulher sem fim,
seiva do meu nome.
Amo-te, em força,
anjo de candura.
Sou gamo...és corça...
Somos a ternura.
Amo-te, alor
dos beijos perdidos,
viçosa flor,
néctar dos sentidos.
Amo-te, aurora
das minhas manhãs,
sumo de amora,
rubor de maçãs.
Amo-te, auréola
de sonhos felizes,
grácil alvéola
nimbando raízes.
Amo-te, amor,
princípio e fim...
Sangue e calor
por dentro de mim.
em laivos de fome,
mulher sem fim,
seiva do meu nome.
Amo-te, em força,
anjo de candura.
Sou gamo...és corça...
Somos a ternura.
Amo-te, alor
dos beijos perdidos,
viçosa flor,
néctar dos sentidos.
Amo-te, aurora
das minhas manhãs,
sumo de amora,
rubor de maçãs.
Amo-te, auréola
de sonhos felizes,
grácil alvéola
nimbando raízes.
Amo-te, amor,
princípio e fim...
Sangue e calor
por dentro de mim.
(in Jornal das Aves, 06/04/74)
(imagem da net)
EI-LO QUE AVANÇA
Ei-lo que avança...
Lua nos olhos,
lábios em dança,
cérebro aos folhos.
Traz mil canções
na cárie dos dentes
- gritos e orações
aos deuses cadentes.
Trinca o cigarro
nos lábios crestados,
segura o catarro
nos dentes cariados.
Urtigas, no peito,
cobrem cicatrizes
dum sonho, desfeito
entre meretrizes.
Traça, sem giz,
no tempo em dança,
o esboço-raíz
dum sonho-esperança.
A lua dos olhos
perde o seu brilho,
entre os escolhos.
Não deixa rastilho.
Seu sonho desfeito
é vento à deriva
- dilema, preceito,
antraz, chaga viva.
Seu sonho-esperança
esvai-se em lume,
torna-se dança
dum saco de estrume.
Ei-lo que avança...
É Rei deposto,
sem ceptro, sem lança,
com lama no rosto.
(in Jornal das Aves, 09/03/74)
Lua nos olhos,
lábios em dança,
cérebro aos folhos.
Traz mil canções
na cárie dos dentes
- gritos e orações
aos deuses cadentes.
Trinca o cigarro
nos lábios crestados,
segura o catarro
nos dentes cariados.
Urtigas, no peito,
cobrem cicatrizes
dum sonho, desfeito
entre meretrizes.
Traça, sem giz,
no tempo em dança,
o esboço-raíz
dum sonho-esperança.
A lua dos olhos
perde o seu brilho,
entre os escolhos.
Não deixa rastilho.
Seu sonho desfeito
é vento à deriva
- dilema, preceito,
antraz, chaga viva.
Seu sonho-esperança
esvai-se em lume,
torna-se dança
dum saco de estrume.
Ei-lo que avança...
É Rei deposto,
sem ceptro, sem lança,
com lama no rosto.
(in Jornal das Aves, 09/03/74)
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