Lazer...distância...esquecimento...línguas de fogo

Antigamente, quando se pegava incêndio a uma casa da minha aldeia, era habitual, em caso de ausência do senhorio, chamá-lo, em gritaria louca, com "aqui-del-rei" e "fogo". É óbvio que, de imediato, localizado o mesmo, este corria, a bom correr, para defender os seus bens, quer o prédio quer o seu conteúdo. Mal dele se o não fizesse, pois seria considerado um verdadeiro louco.
Pois é, a nossa pátria tem ardido, num desespero lancinante, e aquele que elegemos recentemente para dirigir os seus destinos, encontra-se ausente, embora informado, e não parece mostrar vontade de acudir um pouco ao objecto das suas incumbências. Porquê? O seu substituto, co-gestor do quinhão, acha que será desnecessária a sua presença? Creio que é um pouco isso, mas devo frisar que não me parece boa atitude a do principal gestor da parcela em perda, essencialmente quando na mesma vivem e sobrevivem milhares de amigos e compatriotas que vão perdendo as suas partes da grande fatia, alguns as suas vidas, outros a esperança de um futuro melhor.
Não se poderia, mesmo à distância, sem interferir minimamente no usufruto das suas horas de lazer e prazer, lançar uma palavra de apoio e solidariedade para com os massacrados inquilinos da parcela? Não existirão meios sofisticados de telecomunicação capazes de lhe permitir essa atitude solidária? Ou será que a terriola (?) onde relaxa de prazer, em férias algo precipitadas para quem não havia ainda cumprido o tempo legal de actividade que lhas permitisse, não tem esses meios de massificação? Não acho, não acredito, não sou, nem somos todos parvos, apesar de até podermos ser tomados como tal. Não defendo que abdicasse do gozo das férias, com os filhos a quem as prometeu, e não deveria torná-los infelizes, mas deveria utilizar os meios de comunicação possíveis e dirigir-se ao seu povo, que o elegeu para as graças e desgraças. Uma mensagem de solidariedade, como referi.
Não sei, realmente, se este nosso Sócrates, apesar de aparentemente ser bom rapaz, será pragmático e racional. Se Descartes dizia "cogito ergo sum" (penso, logo existo), parece-me que o nosso primeiro ministro não sabe se pensa, nem se existe, embora viva para a existência feliz, infelizmente impensada. Gostaríamos que existisse para pensar mais no seu povo e no que lhe prometeu, sem se manter distanciado, ausente dos seus compromissos assumidos, numa quase assumida inexistência temporária. Sei que são trocadilhos verbais, quiçá inopinados, mas que se aplicam, aplicam.
Até simpatizo, convenhamos, com o nosso PM, mas entendo que ele deveria tomar uma atitude de solidariedade, à distância, usando um pouco da sua imagem ainda (?) pouco chamuscada, para, pelo menos, mostrar que até está connosco e sofre dos mesmos sentimentos pelos infortúnios de muitos compatriotas, vítimas dos incêndios e dos terroristas incendiários.
E por falar destes últimos terroristas, alguns pirómanos doentios a necessitar de jaula e disciplina monástica, outros autênticas remanescências de aliados e seguidores da Al-Quaeda, que lhes deveríamos fazer? Aplicar o Código de Hamurabi? Olho por olho, dente por dente? Carbonizá-los, com a mesma indiferença que os move, dentro do braseiro que eles próprios criaram?
Talvez não tanto radicalismo ou estertores de vingança, mas é necessária legislação muitíssimo mais pesada para os criminosos do fogo posto e, nunca se esqueçam, dos seus mentores, com interesses que deverão ser indagados até à medula. Leis que rejam as propriedades, o seu conteúdo, os destinos da terra e das árvores, as transacções dessas terras e seus produtos, e as intenções de quem quer transformar o verde em betão.

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