Depois do caos…o psiquiatra e o louco
(imagem da net)
Naquele dia, depois
de ter assistido na TV à tomada de posse dos novos protagonistas que iriam
tentar resolver a gravíssima crise que atravessamos, dirigi-me ao meu Hospital
Psiquiátrico, pois tinha combinado experimentar nova terapêutica de vanguarda
num doente com psicose grave.
Chegado ao trabalho
dirigi-me pelos sombrios corredores rumo ao meu serviço. Numa das enfermarias
paralelas, algo me chamou a atenção. Alguém “déjá-vu”…
Reconheci-o como
aquele meia-leca que havia poucos meses abandonara um governo de má memória.
Ignorava que ali estivesse naquele departamento de doentes com esquizofrenia
paranóide. Dei com ele mirando o seu rosto num velho espelho riscado, com
trejeitos de mordomo, aos salamaleques, tentando apagar do rosto as marcas que
já nem discernia se pertenciam à pele facial se ao vidro. No seu estonteante e
ritmado bamboleio, quase tocando a cabeça na imagem dos joelhos reflectidos no
vidro despolido e riscado, deixava sair lentas e curtas palavras, entre dentes
e gestos escanifrados. Aproximei-me, num silêncio lento e cauteloso, para não
despertar ou assustar a “avis rara”. Interpelei-o num tom de voz moderado:
- Ora
viva! Por aqui, senhor ex-ministro?!..Não o conhecia como narcisista. Passa
agora o tempo frente ao espelho?
- Caro senhor… doutor, presumo?
- Sim, mas o título não importa, pois basta,
também presumo, relembrar-lhe o seu amigo, outro ex-ministro, que foi doutor
antes de o ser e passou a não sê-lo depois de o ser…obviamente sabe de quem falo.
-Claro…escusado será utilizar subterfúgios,
pois sempre me habituei a tratar as coisas pelo nome, e esse sacripanta foi um
dos que me estragou todos os cálculos que havia feito para obter um grande
sucesso junto do meu grande amor… o FMI.
- Mas o senhor também esqueceu as pessoas,
subestimou-as e enchafurdou-se no pântano
- Talvez, mas não consigo entender porque
deformei tanto a minha imagem na simples e modesta passagem por um elenco
governativo que me acolheu como um astro e me lançou às feras como autêntico
emplastro. Até pensarão que numa obsessão de poder e protagonismo confundi
experiência com devastação.
- Não confundiu, tomou isso por lema “ab
initio”. Ainda me recordo da sua célebre e ridícula frase proferida em 09 de
Maio de 2012, na Assembleia da República: «Eu não minto, eu não engano, eu
não ludibrio». Recorda-se?
- Olhe, vai há muito tempo, e nem sei se me
poderá ser atribuída. Não terá sido do ex-doutor que há pouco referiu?
- É sua e veio nas páginas de todos os
jornais.
- Não li, mas se disse isso, acredito que
estaria possesso de algum daqueles mafarricos que me atormentaram durante
tantas noites de insónia e dos quais ainda não me libertei, em absoluto.
- Não me diga que também considerou
mefistofélica a louca frase em que disse, com ar pausado e convencido: «O
ano de 2015 é o ano imediatamente consecutivo a 2014.»
- Alto aí! Perante tanta cegueira que me
rodeava, ensaiei a teoria das evidências, na certeza que, no mínimo, me
entenderiam. Limitei-me à quantificação sequencial de um aforismo poético.
Adoro poesia matemática!
- Há uma altura em que o senhor diz, com
convicção “A
minha educação foi extraordinariamente cara. Portugal investiu na minha
educação de forma muito generosa durante algumas décadas. É minha obrigação
estar disponível para retribuir essa dádiva que o país me deu.” Acha ter cumprido a sua referida obrigação?
- Devo repetir-me,
apesar da minha incipiente caquexia de etiologia governativa, mas noutra frase
que proferi, se bem se lembra: “Pela
minha parte, a participação no Governo tem por único propósito retribuir o
enorme investimento que o país colocou na minha educação.” Tentei o meu melhor, mas acho que fui traído pela inexperiência
científico-política dos meus pares. Acontece.
- Na apresentação
do seu último orçamento, de má memória para as vossas intenções no
desmantelamento do país, porque razão afirma, com doentia convicção que “O nível da dívida pública, que vai aumentar acima dos 120
por cento (do PIB) em 2013, não permite margem adicional?”É que depois mudou o bico ao prego e, perante o desaire, face à decisão
do Tribunal Constituinte, a margem transbordou e o adicional tornou-se figura real.
- Confesso com
algum embaraço que não estudei bem (onde raio já disse isto?!) os “dossiês”,
pois na altura até disse: “É convicção do
Governo que a proposta de Orçamento de Estado respeita os critérios
constitucionais.”
- Quem era o
sapiente constitucionalista do elenco governativo? O Dr Rui Medeiros, o Dr
Vítor Bento, você próprio…quem? Poderiam ter sido humildes e reconhecer que, na
vossa boa-fé, acreditavam que nenhuma das normas seria inconstitucional. A
vossa pouca credibilidade mostrou a noção que tinham de uma verdadeira
democracia constitucional. Talvez tenham, até, pensado numa petição on-line
para considerar inconstitucional o Tribunal Constitucional.
- Ó doutor, também
brinca assim, despudoradamente, com os seus doentes? Posso deduzir que tratam
doentes como se fossem reses para o matadouro. Porventura lhe parece que sou
mais estúpido do que pareço?
- Não senhor ex-ministro,
mas acredito que por falta de dinheiro vocês fossem capazes de tudo, desde
vender a pátria a retalho, para maiores perdas futuras, até à expulsão dos
portugueses deste naco de terra mãe, para a transformarem em terra madrasta,
remanso de parasitas de off-shores.
- Olhe caro
doutor, já que fala de dinheiro, respondo-lhe ainda com uma outra frase que
proferi, num Conselho de Ministros, para o meu companheiro de desgraça que não
conseguiu endireitar a economia: “Não há
dinheiro. Qual das três palavras não percebeu?!”
- Dinheiro sempre
houve, meu caro, a questão que se coloca é, em que mãos, como e porquê? Nunca
houve foi vontade de evitar que o mesmo chegasse a essas mãos da forma que
sempre chegou e continua a chegar. Dinheiro não se evapora e, se leu as leis da
Física, sabe a teoria dos vasos comunicantes. Se sai de um lado é porque está
no outro. Aliás sabemos que o senhor já antes de sair e até de entrar no
governo, tinha uma conta com mais de meio milhão de euros, dois bons Mercedes e
um BMW. Ora eu, meu caro, também possuo uma boa profissão, trabalho que nem
besta, e fico-lhe pelos calcanhares. E olhe que não lido com matérias
insensíveis ou inertes… o meu…
- Eh lá,
respeitinho, meu caro doutor. Não lhe permito entrada por essa via sinuosa. É
que senão ter-lhe-ei que responder como o fiz a certos e atrevidos
inquisidores:” Por favor, não coloquem
essa questão mais nenhuma vez. Não poderei fazer mais do que repetir a mesma
resposta, a não ser, talvez, usando um tom de voz um bocadinho diferente.”
- Certo, meu caro,
mas muito mais haveria a conversar. Espero que não vá ficar aqui, na
enfermaria, diante deste velho espelho, talvez à espera dum milagre para
resolução das misérias que ajudou a criar. E não faça tantas reverências à
imagem do que foi, pois será alvo de chacota dos outros doentes. Cada um é como
é, e nunca como julga ser. Não se esqueça da medicação, que vou falar com o meu
colega que o trata.
- Já agora
comunique-lhe que, como é meu apanágio, não me importarei de discutir e
negociar convosco uma resolução decente para comprovar a minha indiscutível sanidade
física e mental.
Continuei a minha marcha e soltei uma risada de
contentamento e raiva. Sei que o louco se manteria diante do espelho,
reverenciando-o e, quiçá, interrogando-o: “espelho
meu, porventura terá existido melhor ministro que eu?!”
Comentários
Será um doido ou um simples totó que um bando de ignorantes tomou por génio?
Confesso-lhe que ainda não percebi se tudo a que assistimos é uma demonstração absoluta de incompetência e burrice ou se estão a cumprir alguma encomenda?
O Caro dbo que é médico, ainda que não deste ramo, se lhe aparecesse um artista destes pela frente o que lhe fazia? Internava-o? Dava-lhe choques eléctricos naquela cabeça?
Que coisa... O que nos havia de acontecer, credo...?!
Parece que nem de propósito as coisa coincidiram.
Sendo ou não sendo médico, talvez o mandasse para o Arquipélago de Gulag, se é que tanta asneira lá coubesse.
Congelar-lhe-ia o cérebro e depois colocá-lo-ia em formol num frasco e numa redoma qualquer, com epitáfio elucidante: aqui jaz um cérebro sem neurónios que maculou, sem qualquer pudor, a humildade dum povo que nem tempo teve de gemer um ai.
Saúde e felicidades
Ao menos isso que rir é do melhor que há para a saúde, não é?
Saúde e felicidades também para si!