Greve dos médicos... SNS em questão

(imagem da net)

Os médicos optaram pela manutenção do aviso de greve. Esta vai suceder, não sei se muito conseguida, mas a crer nas várias opiniões colhidas entre pares, no local onde trabalho, a adesão promete volume.
Não duvido que as cinzas do evento deixarão transparecer para o exterior uma má imagem do nosso país. Não só por se tratar de uma classe de alta diferenciação académica com estatuto social reconhecido, mas, acima de tudo, pelas verdadeira etiologia do acto grevista. Espantoso um governo ter deixado prosseguir a greve duma classe que sempre se julgaria estar ao lado dos poderosos, essencialmente neoliberais. Todavia, quer os detractores da classe médica que alimenta os hospitais públicos, quer o governo, receberão uma lição de alguém que até poderia, de alguma forma, dar cobertura ao neoliberalismo desconcertado e desbragado dos que se revêem nas políticas destruidoras dum SNS que muito custou a criar e que já foi, como se sabe, o 12º melhor do mundo.
Sei que amanhã haverá uma larga franja de pessoas que zurzirá, na imprensa e nos múltiplos blogues, todos os médicos, num autêntico auto-de-fé, sem que se inteirem e informem devidamente das razões destes profissionais que até estão a lutar pela qualidade do SNS, além dos seus próprios interesses, como será óbvio (todas as classes o fazem).
Nem toda a gente sabe que qualquer médico para atingir o grau de especialista (Assistente Hospitalar) teve primeiramente que fazer, os seis anos do curso seguidos de dois (agora um) anos de internato geral e depois mais cinco ou seis anos de especialidade. Devo dizer que a minha geração até fez seis e cinco anos de “internato geral” (a célebre Policlínica), antes de entrar na sua especialidade. Vendo bem, o tempo mais curto, actualmente, fica-se pelo somatório de treze (13) anos. No entanto a partir daí fica uma sequência de múltiplas provas públicas com júris nacionais de cinco colegas, para se passar, em tempos definidos, os vários níveis desde Assistente Graduado Hospitalar até Chefe de Serviço (hoje Assistente graduado Sénior), uma meta que só alguns poucos atingem. Actualmente tudo está congelado desde 2005, não havendo progressões na carreira. É um verdadeiro Portugal estático, no seu melhor duma política neoliberal.
Felizmente consegui, há quase doze anos, atingir o grau de Chefe de Serviço, mas não foi por anos de serviço, nem pelos lindos olhos. Muito menos pelo método “lusófono” do crescimento dos “relvados”. Se assim fosse, bastaria ter sido “endireita” ou “bruxo” durante alguns anos de bom sucesso na arte, e os créditos replicariam como coelhos nas luras.

Para elucidar um pouco mais os que medem os médicos pela mesma bitola e os vêem como os mais ricos do sector público do Estado, deixo aqui alguns links que poderão explorar e analisar.
Devo, no que concerne às tabelas de remuneração (de 2010 – não mais actualizadas), informar que muitíssimo poucos clínicos estão na exclusividade, sendo a maioria, tal como eu, militantes das 35 horas de tempo completo. Aliás a exclusividade já acabou  para novos pretendentes. Também não existem quase nenhuns médicos nos escalões 3 e 4 de Chefes de Serviço – congelaram, quase todos, no escalão 2!


Para digerir, um artigo do site da Secção Regional Norte da Ordem  dos Médicos:

E creio que basta. Amanhã e quinta-feira se verá o rescaldo dos que urraram e dos que sussurraram entre dentes



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