O vil metal...alguns palpam-no...outros cheiram-no, à distância

Não pretendo divagar sobre os principescos mergulhos em nóveis paragens petrolíferas, nem criticar quem luta contra ventos e marés, pois esta é a ciclópica saga dum povo que, de seu, apenas tem o primeiro nome de baptismo. Todavia nem todos são Tónios ou Manéis, para além de sobrenomes herdados de infortúnios acumulados e lutas perdidas. No entanto todos têm mãos para trabalhar, neurónios para queimar e vontade de lutar contra os tais "ventos e marés" que, para uns, serão simples tempestades em copos de água, mas, para a maioria, são autêntico "tsunami". Também os seus estômagos são prolongamento dos esófagos, mas os alimentos que os preenchem variam de acordo com ventos e marés...entenda-se a parábola.
Há bolsos e bolsas, uns cheios, outros vazios, uns de belo tecido, outros de ganga, uns rotos, outros bem forrados...mas sempre se dirão bolsos e bolsas, para além das suas características essenciais. Do mesmo modo um homem não deixa de o ser, se melhor ou pior vestido, se rico ou pobre, se patrão ou empregado, se senhor ou escravo...mas, na realidade, há os "infra-homens"...e todos os dias nos rodeam, nos surgem em cada esquina...quase os atropelamos.
É claro que já prevejo as críticas considerando que estas "palavras gastas", de tão repetidas, só podem sair de mais um "comuna" explorado, mais um deserdado da pátria (se sim, quem o deserdou?). Ilações precipitadas fazem muitos inteligentes passarem por ignorantes, e receio que muitas conclusões evidenciem tanta "cabeça de iluminado".Não se trata de uma obsessão de miserável ou preguiçoso, mas sempre me foge a palavra para tantos que, sem mérito nem competência (tirando a do princípio de Peter), vivem refasteladamente, à custa do suor de grande maioria que, impotente, se deixa acomodada, num país que sempre foi de acomodados, e a nossa História, essencialmente pós Descobertas, é disso testemunho, como poderei mostrar noutra altura.
Passemos às razões de tanta "efabulação", baseados em factos e anti-factos. Todos sabemos que os políticos devem ser razoavelmente bem pagos e ninguém o negará, mas, há ordenados e ordenados, regalias e regalias; também há políticos e políticos, gastos e gastos...mas, na política, há sempre um bode expiatório: a coisa pública.O que é público, logicamente é do Estado...que somos todos nós. É o bê-á-bá da política, sabido desde o pé rapado ao mais abastado. No entanto, o que é público sempre aguçou apetites privados, e na política não há excepção.
Há, na função pública, como em qualquer sector laboral, bons e maus profissionais, no entanto a ralé da função pública é que é conotada de improdutiva, isentando-se aqueles que passam pelas esferas do poder e consomem a maior fatia do nosso erário público. É sabido que haverá na administração pública alguns excedentes de funcionalismo em determinados sectores, mas também nos efémeros funcionários do poder político há excedentes (e de que maneira!). Vejamos qual a necessidade de tantos deputados no Parlamento? Qual a necessidade de tantos acessores políticos em determinados ministérios? Porquê tantos gestores e administradores de empresas públicas?...enfim, um nunca mais acabar de tachos e desnecessárias ocupações.E os gastos materiais, a logística? Para quê tantos e tão caros automóveis ao serviço dos grupos políticos, em todos os sectores incluindo empresas públicas onde pululam os boys da conjuntura. Porquê tantos benefícios desde combustíveis ao desbarato, almoços à farta, telemóveis, viagens de "pseudo" representações, etc... E as vergonhosas subvenções que auferem todos os que passaram por lugares políticos, avaliadas de forma displicente, que não é aplicável a quem trabalha em qualquer lugar normal de função pública. Porventura algum funcionário público vulgar, técnico superior ou não, vê, quase duplicado, o seu tempo efectivo de serviço, para fins de reformas ou subvenções futuras? Se um funcionário público comum tem que trabalhar vinte anos, e descontar outros tantos, para que lhe contem, na totalidade, para reforma, porque razão um político que trabalha como presidente de câmara dez anos quase lhe contam vinte de tempo de serviço para fins de subvenções, mesmo só tendo descontado dez anos para os fundos públicos...terá lógica? Acabam por ganhar por anos que não trabalharam nem descontaram. Ser trabalhador público com milhentas de horas nocturnas de serviço, fins de semana perdidos, etc., é bem mais custoso que ser presidente de câmara ou deputado. E regalias? Nem vê-las...
Pois é, meus amigos, é nisto que faltou e sempre faltará coragem política aos governantes, para pôr termo a estes privilégios dos que delapidam a grande fatia dos dinheiros públicos...e depois, quem passa por mau da fita, é o funcionário público menor.Expliquem a lógica dessa hipervalorização de tempo de serviço para uns e não para outros. Porquê indivíduos reformados com maiores "ordenados" que alguns, no activo, que desempenham iguais funções às que aqueles desempenharam? Haverá razões que expliquem o facto de Mira Amaral receber, após retirada da CGD, mais que o Presidente da República? Nem falo doutros...
Não são invejas, meus caros. Trata-se, isso sim, de distribuir melhor e mais justamente as benesses, pois todos somos filhos da lusa pátria.Daria os meus louvores, e o povo agradeceria ao próximo Governo, uma revisão justa destas mordomias, retirando-as de imediato, mesmo a quem já delas beneficia, e repondo-lhes apenas um justo salário ou reforma, de molde a não depauperar mais o nosso erário público, nem criar injustiças entre um povo já causticado de tanto "apertar o cinto", para engorda dos protegidos pelas classes dominantes, a coberto de ínvias legalidades.Enquanto alguns desperdiçam o vil metal, outros apenas o cheiram à distância...é a sina deste povo...até quando?

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