os turbo-médicos

Sempre achei alguma graça aos turbo-profissionais livres, e agora vejo retratado o problema noutro blogue, o causa-nossa, Luis Lavoura, que me parece um adepto fervoroso da exclusividade dos médicos, aspecto que não me repugna, mas que também entendo não ter sido, nem continuar a ser, benefício para as instituições de Saúde.
Digo que não é benefício para essas instituições por vários motivos. Primeiro porque sei, por experiência e vivência próprias, que os médicos que trabalham no regime de exclusividade das 42 horas, ou seja apenas mais 7 horas (teóricas), não realizam, nos hospitais que trabalham, mais serviço que os da não exclusividade (os das 35 horas). Muitas vezes, e basta comparar rentabilidades nessas instituições, até são menos produtivos e mais lentos, pois não estão habituados a maior intensidade de trabalho, como é exigida na clínica privada (mais exigente, quer em hospitais, clínicas ou consultórios privados), além de, muitas vezes manterem o senso comum de funcionários públicos dolentes, com trabalho para se ir fazendo, lento pede sed secure.
Quando refiro que a diferença de 7 horas, das 35 para as 42 horas, é teórico, digo-o com toda a segurança, porque quem trabalha 35 horas acaba por fazer semanalmente mais 12 de urgência geral, logo perfaz 47 horas, o que transcende o tempo legal. Depois, até há bem pouco tempo, e desde o célebre dec.-lei 73/90 (da Dra. Leonor Beleza), as horas extras, que custam a todos os trabalhadores da mesma forma, eram pagas a preço de saldo aos trabalhadores das 35 horas, ou seja a quase metade do preço..
Além da rentabilidade e produtividade não ser maior, também as alcavalas dos clínicos da exclusividade são notórias, e basta ler aquele decreto-lei. Assim, em cada 4 anos de serviço, esses médicos têm mais um ano de serviço efectivo, além dos honorários serem quase o dobro dos das 35 horas. Têm preferência para participar em Congressos e Cursos médicos; a partir dos 55 anos começam a ter descontos no horário, à razão de uma hora em cada ano, até chegar às tais 35 horas; quando se reformam, o valor dessa reforma é em função do ordenado que recebiam, daí muitos (espertos, é claro) mudarem para regime de exclusividade por volta dos 55 anos de idade...não os critico.
Se na data em que entrou em vigor este sistema de trabalho houvesse uma aderência de apenas 90% dos médicos efectivos (pouco mais de 20.000, nessa altura) o SNS ia estoirar com o orçamento para a Saúde, só nos honorários médicos. É questão de regredir no tempo e fazerem-se as contas.
Quanto à pretensa promiscuidade, público/privado, que poderia ter levado a este sistema de exclusividade, devo dizer que ele mesmo é mais promíscuo ao permitir certos clínicos deste regime (os mais graduados e directores de serviços) fazerem serviço privado dentro da instituição com gastos de material e pessoal da mesma, além de poderem ter, dentro do hospital, quartos particulares reservados em seu nome...e esta hein?!...Vem no decreto, caros amigos.
Sempre me admirei por ver os comunistas defenderem "para trabalho igual salário igual", mas aqui, nesta discrepância, nunca os ouvi senão apoiar...entendo-os!
Todavia não sou contra os que se aproveitaram e aproveitam do sistema, e até acho que com certas variantes e bons honorários aos clínicos, este sistema poderia ser melhor utilizado, mas sem tantas alcavalas para uns e castigos, repito, castigos para outros.
Só quem não trabalha no meio do sistema não o conhece...e quanto a profissionais e seus comportamentos apenas rematarei: há MÉDICOS e médicos, grandezas e fraquezas...
O assunto, bem esmiuçado, tem pano para mangas...

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